Nada contra os bons sentimentos. Tudo contra os clichês.
Fragmento do texto de Matheus Pichonelli.
Via Carta Capital.
"A certa altura da vida posso dizer sem certa vergonha: não dou a mínima para o espírito de Natal. Ou melhor: não dou a mínima para quem vem me falar, a essa altura do campeonato, sobre espírito de Natal.
Por um motivo simples. Tivemos o ano inteiro para sermos minimamente decentes com o colega do trabalho, com os amigos, com o cobrador do ônibus, com o rapaz do estacionamento, com o andarilho que nos pede dinheiro e piedade à porta de casa.
E, órfãos de algum espírito superior que nos rondaria em maio ou junho, chutamos todo mundo. Família? Fala sério. Ficamos o tempo todo batendo boca com a esposa que teima em aparecer na festa da irmã da cunhada, de quem a gente foge feito o diabo da cruz.
Mas chega o Natal e tudo é compensado pelo churrascão de fim de ano, quando todo mundo se abraça, diz que se ama e confere o relógio para saber quando é que as visitas vão embora.
E se as coisas não saem do jeito que imaginamos quando assistimos “Esqueceram de Mim” ou à versão da Disney do “Um Conto de Natal”, a culpa é do libanês dono da loja de brinquedos, que ralou o ano inteiro, se endividou, tomou balão dos fornecedores e só agora vai ver o filé mignon, com o aumento do movimento provocado pelo tão malfadado imperativo comercial – e que será a locomotiva da indústria de bens de consumo, que afinal faz a grana girar, cria empregos, etc.
O sujeito que agora pragueja contra “essa festa pagã e comercial” talvez tenha esquecido do quanto esperou por aquele bonequinho dos Comandos em Ação quanto tinha nove anos, naquele inesquecível Natal de 1991 – quando fechou a cara com a avó por ter ganho uma mera cuequinha cinza da Lupo.
(Criança, mais que ninguém, sabe quando alguém a visita com um presente em mãos dizendo que ela foi lembrada, ao mesmo naquela data. É assim desde que o mundo é mundo, e a culpa não é da hipnose provocada quando a Xuxa vai à tevê vender bonecas.)
Se lembrasse de tudo isso, o sujeito saudoso do espírito natalino – natimorto desde que o menino Jesus saiu carregado da manjedoura – agradeceria antes ao espírito das compras do que ao velho ascetismo cristão por ter um emprego e ver a economia crescer de um tempo pra cá.
Seria um favor à contenção da hipocrisia e dos clichês, pragas bem mais irritantes do que o estresse das compras de fim de ano."
Leia o texto na íntegra... >>>Não dou a mínima para o ‘espírito de Natal’ | Carta Capital
sábado, 24 de dezembro de 2011
Não dou a mínima para o ‘espírito de Natal’
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