"Toda história tem três lados: o meu, o seu e os fatos." ( Foster Russel)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Brasil aproveita crise na Europa e tenta aumentar influência no FMI


Em giro na América Latina, diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, Chistine Lagarde, reúne-se com autoridades brasileiras e ouve que país topa botar mais dinheiro na instituição para ajudar socorrer Europa. Na luta por mais peso nas decisões do FMI, governo condiciona aporte à continuidade de reforma. Quantia será decidida com BRICS. Para FMI, crise vai piorar em 2012.

Por André Barrocal, no sitio Carta Maior

BRASÍLIA – A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), a francesa Christine Lagarde, passou nesta quinta-feira (1) por Brasília, onde se reuniu com a presidenta Dilma Rousseff e a equipe econômica, e saiu com a promessa de que o país topa injetar mais dinheiro na instituição, para ajudar a socorrer países em crise na Europa.

O valor que o Brasil colocará a mais no FMI não está definido ainda. O governo planeja decidir junto com os parceiros de BRICS – Rússia, Índia, China e África do Sul - até fevereiro, quando haverá nova reunião do G20, o grupo das vinte economias mais potentes do mundo. Segundo Lagarde, o próprio FMI não sabe ao certo de quanto precisará para conter uma ruína na Europa.

Qualquer que seja a quantia, porém, o governo já considera que se trata de um fato histórico e com vantagens para o Brasil. Ainda que pareça estranho um país com carências financeiras notórias em saúde e educação, por exemplo, comemorar que vai mandar dinheiro para socorrer estrangeiros.

“É uma grande satisfação para nós que, desta vez, o Fundo Monetário não veio trazer dinheiro para o Brasil, como vinha no passado, mas veio pedir dinheiro para o Brasil para emprestar para os países avançados”, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista ao lado de Christine. “Parece contraditório, a gente deveria querer dinheiro. Mas eu prefiro ser credor do que devedor.”

Com um novo aporte, o governo acha que deixará o FMI um pouco mais dependente do país. O Brasil pode, em tese, aumentar um pouco a voz nas decisões da instituição sobre o socorro a afogados – tempos atrás, Dilma disse que o país não concorda com arrocho e recessão. Ajuda também a influenciar opiniões sobre temas como controle de capitais, o que facilitaria, do ponto de vista político, sua adoção interna.

É um tipo de poder que o “mercado” tem perante o governo por ser credor da trilionária dívida em títulos públicos (R$ 1,8 trilhão). Um poder que dá ao “mercado” força para exigir juros altos em troca da rolagem semanal da dívida.

Necessidade doméstica
Para o Brasil, juntar-se ao FMI no socorro a europeus também atende interesses domésticos. Quanto mais tempo a Europa estiver no marasmo, pior para o crescimento interno, mesmo que o país tenha hoje mais força para enfrentar esse tipo de situação.

Antes de reunir-se com Christine, Mantega havia anunciado medidas para atrair capitas estrangeiros à bolsa de valores exatamente porque a torneira lá fora está ficando seca – o sistema financeiro começa a ter medo de emprestar, e muitas empresas brasileiras pegam dinheiro lá fora porque os bancos aqui dentro cobram juros maiores.

No ano que vem, a situação deve ficar ainda pior, pelo menos nos cálculos do FMI, que em breve divulgará nova previsão de crescimento mundial e de alguns países individualmente. “Será revisto para baixo, sem dúvida”, disse a diretora do FMI.

Chistine concorda que o Brasil é hoje um ator diferenciado na crise global. Citou um tripé que caracteriza a política econômica desde o segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique – metas de inflação, superávit primário para pagar juros da dívida e dólar que flutua livremente. Mas também mencionou uma mudança que começou na gestão Lula. “Para nós, o Brasil está mais protegido do que outros por causa da força do mercado interno”, disse.

A passagem de Christine pelo Brasil faz parte de um giro pela América Latina que inclui ainda reuniões no México, que este ano recebeu um empréstimo gigante de US$ 47 bilhões, e no Peru, onde um novo presidente, mais à esquerda, Ollanta Humala, tomou posse em 2011.

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